Corrupção mundial custa 26% mais que aplicações na educação fundamental
As aplicações mundiais no ensino fundamental representam 74% do custo anual da corrupção, estimada em mais de US$ 1 trilhão pelo Banco Mundial (Bird). Isto é, o gasto com o ensino entre a 1ª e 9ª séries, em torno de US$ 741 bilhões, é R$ 259 bilhões menor que a cotação das práticas ilegais. A educação fundamental equivale a 1,3% do PIB mundial em PPC (Paridade do Poder de Compra), um modo de calcular o Produto Interno Bruto que tenta eliminar a diferença do custo de vida entre os países. Já as perdas com a corrupção representam cerca de 2% do PIB global, 0,7 ponto percentual a mais que o gasto com a educação para crianças e adolescentes.Anualmente, somente os países em desenvolvimento perdem entre US$ 20 e US$ 40 bilhões em ações de corrupção, o que pode chegar a 40% dos gastos oficiais com assistência social. Negociações como sonegação e corrupção podem custar até US$ 1,6 trilhão a cada ano em todo o mundo. Apenas a África, segundo a União Africana, perde US$ 148 bilhões por ano – equivalentes a 25% do Produto Interno Bruto do continente – por culpa de desvios ilegais de recursos.
O ônus da prática da corrupção é avaliado pelo Banco Mundial com base em dados econômicos de mais de 200 países, sobretudo, do dinheiro desviado em esquemas de superfaturamento de projetos e pagamento de propinas a servidores públicos. As aplicações em “primary education”, que equivale no Brasil ao ensino fundamental, por sua vez, foram apresentadas no final do ano passado no relatório Educação para Todos, elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Os custos dizem respeito, entre outros, à construção e manutenção de escolas, aos salários dos professores, aos materiais de aprendizagem e as bolsas de estudo.
Tatiana Filgueiras, especialista em educação do Instituto Ayrton Senna (IAS), acredita que a educação é duplamente uma ferramenta de combate à corrupção. “A educação promove uma dupla condição necessária para o combate à corrupção, que é o fortalecimento das pessoas, necessário para a efetividade do controle social, e o fortalecimento das instituições, necessário à instauração de cadeias de prestação de serviço mais éticas, eficientes e transparentes com sistemas de responsabilização”, destaca.
A especialista do IAS acrescenta que a educação gera educação, portanto, investir no setor é também uma forma de perpetuá-lo, já que a escolaridade dos pais é fator decisivo para que os filhos também freqüentem a escola. “A educação, ao mesmo tempo, gera riqueza, pois o aumento da escolaridade de um povo é capaz de elevar os níveis de renda e de saúde, de elevar níveis de participação e de controle social, além de contribuir para o próprio desenvolvimento econômico”, completa.
De acordo com o Instituto do Banco Mundial, países que combatem à corrupção e zelam pela manutenção do Estado de direito podem ter um aumento de até quatro vezes na renda nacional em longo prazo. “Educação gera educação, que gera riqueza, que contribui para o crescimento do país”, resume Tatiana. O cientista político e professor de Teoria da Corrupção da Universidade de Brasília Ricardo Caldas aponta que a educação é uma forma de se combater a corrupção. “O nível de educação é uma condição necessária ao combate do problema. No Brasil, o nível de educação poderia trazer, mas não necessariamente, cultura política”, ressalta. Para Caldas, o índice médio de crianças entre 5 a 14 em sala de aula (97%) pode ser considerado um avanço em relação à décadas passadas, mas pondera que a situação ainda não é a ideal.